quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Por que nos cercamos do vazio?



 Há algum tempo eu desejava passar um pente fino na minha vida em meus passos, nos planos, nas pessoas e no que isso poderia, eventualmente, me trazer de positivo caso fosse uma experiência bem sucedida. Defino esse período como sabático, e confesso ter sido impulsionado por ingressar num relacionamento onde coincidentemente a longevidade foi até o limite necessário para dar sentido aos pensamentos que tanto pediam minha atenção. 

De lá pra cá foram 04 anos de exílio, por assim dizer, muitas reflexões, pequenas aventuras, algumas confusões e crescimento em abundância. Moral. Espiritual. Conceitual.

Eis que surge um novo Rafael, assertivo na experiência bem sucedida, menos crítico, mais paciente, um tanto relaxado, seletivo, objetivo, sempre sarcástico e enfim, em paz consigo.
A pergunta se mantém, afinal: Por que devo me cercar do vazio? Das pessoas vazias, com seus conceitos vazios e não agregadores vivendo suas vidas vazias, por que tê-las comigo? Deveria eu ser o semeador da reforma íntima que cada um de nós tem a necessidade de realizar? Ora, mas ela não é íntima?

Já parou pra pensar que vivemos mais de uma expectativa ao invés da realidade propriamente dita? Que o amanhã só existirá se assim Deus permitir e que ainda assim temos que nos concentrar e aceitar o Hoje como ele é? 

Não me importa o que pensam aqueles que só perceberam minha ausência quando eu, por conta própria, me fiz presente. Estes não estavam sob minha mira. Os alvos foram todos os que de alguma forma se certificaram do meu bem estar sem questionar a causa, porém, compreendendo os motivos. 

Há mais força em nosso interior do que nos permitimos sentir, existe mais amor para doarmos do que realmente necessitamos receber. Crescer não é fácil. Amadurecer, muito menos. Convivemos com a necessidade implícita de errar, acertar e vivenciar para enfim, aprender e seguir adiante. 

Creio que felicidade seja algo introspectivo ou quanto mais me concentro no que possa me fazer feliz, mais longe fico da felicidade genuína. Ser feliz me parece o bastante, seja na dor ou no amor. 

Conhecimento é a única fonte que não seca dentro de um ciclo que nunca cessa.

Então, se tudo depende de nós, oras, por que nos cercamos do vazio?

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Jogo da Vida.

Toda vez que me pedem um conselho acabo ouvindo a seguinte frase após minha resposta: você sempre diz a mesma coisa. Ora, em minha defesa obviamente não vou muito além do fato de crer em minhas próprias convicções e tentar aplicá-las, afinal, qual é a dificuldade em se tirar conclusões? 
Sinto que minha base é sólida e procuro não me concentrar em apenas um ou outro aspecto, busco o equilíbrio no todo que vivemos sem me abster entre o certo e errado já que nosso mundo é repleto de diferenças, seu dinamismo faz com que tudo mude de repente e já não há mais tanto espaço para pessoas obsoletas. A rotina é singular, as situações das mais diversas, os erros diários, os acertos voluntários e a evolução galgada, pois como dizem, a natureza não dá salto. 
Peças iguais não completam quebra-cabeças, a necessidade do atrito é a linha tênue entre conforto/desconforto e esperança que algo se mova, segundo Einstein "insanidade é continuar fazendo sempre as mesmas coisas esperando resultados diferentes" e imagino que concordar com essa máxima não seja de difícil compreensão, não? 
A arte de ser lógico muitas vezes nos direciona a resultados ilógicos, o que parece irônico, será? Talvez, dado o fato de destinarmos a maior parte do nosso tempo pensando em questões improdutivas que não nos levarão a lugar algum. 
Acredito que somos maiores do que o populismo barato que nos norteia, as crenças enraizadas e envaidecidas que se pregam, ao conjunto entre sorte/inveja justificativa dos fracassos alheios e conceitos retrógrados. Creio numa felicidade introspectiva desprovida de vaidades morais, no ignorar de certos detalhes dispensáveis onde, por ventura, o mais correto seja desenvolver a sensação sem a necessidade de lhe atribuir a uma figura ou representação. 
A verdade por assim dizer, ou a minha verdade neste caso, é que o mundo é tão justo quanto injusto pra todos nós, tudo depende ou dependeu de um empenho para que fosse empregado o sucesso ou fracasso desempenhado por alguém. 
O resumo da obra é menos complexo do que as próprias barreiras que desenvolvemos em nós mesmos, mais pontos finais nas interrogações deixadas pelo caminho talvez seja uma solução temporária, o que não significa o cessar das questões a serem desenroladas no decorrer da vida. A lição é o entendimento da vida como etapas, ciclos que se iniciam e também possuem seu fim. 
Amor e dor são momentos que duram, as vezes não, mas que não perduram se assim escolhermos. Pense nisso!

quinta-feira, 17 de março de 2016

Sobre Política.



Nasci numa época em que as pessoas não conversavam abertamente sobre política, fora as viúvas saudosistas de Maluf, Sarney, FHC e tantos outros, porém, recentemente e com o passar dos anos, no desenvolvimento do acesso as informações e de tecnologias, política hoje é quase tão retratada quanto o Carnaval em fevereiro ou a rodada de futebol nos domingos.
Em tempos de crise muitos ensejam alcançar o poder da mudança, do fato novo, a partir disso surgem santos, videntes, estudiosos (como surgem estudiosos nestes momentos) e ou aquele velho discurso manjado de coalizão pelo bem comum, ou seja, governar pelos próprios interesses e pra salvar a própria pele, sem considerar o povo.
Convoca-se os militantes sejam eles os prós ou contras, entopem a mídia que tanto anseia por furos e coberturas sensacionalistas, excitam os debates de ideais acalorados com o velho "nós" contra "eles" ou "coxinhas" (rico não pode protestar e pobre que protesta com rico não é pobre) versus petralhas (rico pode protestar com pobre porquê nestas manifestações estão supostamente apenas a escória da sociedade). A verdade além de nossa imaturidade política, que muito se deve a própria submissão da população que muitas vezes é adepta de atitudes tão condenáveis quanto as que hoje combatemos, é que não aprendemos de fato o conceito de Democracia.
Não se permite no Brasil direcionar críticas ao governo sem receber a alcunha de oposicionista, mas ora, e nos casos onde a oposição associada também não lhe representa? Cito então nosso exímio ministro Mercadante que diz "Na política vale tudo.", e se este é o preceito aplicado pela maioria destes que supostamente nos representam, qual a relevância de se discutir A ou B? 
Tal qual o Pedro Bial adjetiva os famosos "Brothers" de heróis por suportarem o confinamento no período máximo de 90 dias e concorrendo a R$1.500.000,00, onde diga-se de passagem, os referidos se encontram por livre e espontânea vontade, como denominaríamos o verdadeiro cidadão trabalhador brasileiro? Este mero mortal, que não possuí luxo em sua casa, não se habilita a herói e se torna na prática, tendo que trabalhar uma vida inteira e não receber metade do valor do prêmio pago pelo reality.
Esta alcunha superficial aplica-se também ao discurso já vencido praticado nos últimos 13 anos, de que independente da ação ou da grave irregularidade cometida e comprovada, quem a aponta se torna golpista. Isso é golpe!
As milhões de pessoas que destinam-se as manifestações justamente para lutar contra estas ações vulgares, são taxadas de alienadas por todos aqueles que são ou se fazem incapazes de compreender pelo fato de não aceitarem ou de algum modo, se beneficiarem da causa que defendem mesmo diante dos fatos.
Discussões filosóficas, aliás, não podem ser empregadas em discussões de fatos, não há, de forma minimamente racional razão para se estoriar situações já comprovadas e consolidadas em todas as instâncias.
Nós contra eles, elite branca versus pobre preto, sudeste contra nordeste, todas as induções acima são mescladas de forma uniforme dentro de um discurso de união para o desenvolvimento. Notou a inconsistência? Seremos nós com eles? Nós e eles? Ou apenas nós?
Como pode, por exemplo, um ex-presidente analfabeto, nordestino, mero peão e pobre, ser e ao mesmo tempo não ser (embora existam diversas evidências que sim) dono de um tríplex, de um sítio e além disso, ter todos os gostos e despesas custeados por amigos empresários que são da elite branca, donos de empreiteiras e prestadores do governo? Qual a dificuldade em enxergar as incoerências? Como pode a mesma figura aparelhar, utilizar, se orgulhar e dar autonomia para a Polícia Federal, hoje se esquivar e tentar salvar a própria pele? 
Pois é, o senhor não é mais presidente, tão pouco se assemelha com aquela figura de presença forte e atitude feroz na implementação de seus ideais. Permita-se então vangloriar-se das benfeitorias, do desenvolvimento e ascensão social, honre-se de parte do caminho trilhado e da época em que seu discurso correspondia a prática. Abaixe o tom, engula seu próprio ego, realoque sua humildade perdida, resigne-se de que seu tempo e sua figuração já não são mais necessárias e aprenda que a justiça do homem falha, muito em favor de pessoas como você, mas a de Deus não.
Ninguém, de nenhum grau, de qualquer lugar ou em qualquer posição se sobrepõe as leis que legitimam a sociedade moderna e contemporânea que vivemos. O discurso de Robin Hood é lindo desde que destinado de forma igualitária, agora, um tríplex pra você e um casebre para os demais não me parece o jeito mais justo e sensato de retribuir aqueles que o elevaram e construíram seu sonho de poder.
O homem, ex-presidente, desde sua criação se mostra muitas vezes incapaz de resistir as tentações que a vida nos apresenta, o progresso coletivo disfarçado pelo progresso próprio, no momento certo causa o regresso.
Quanto aos demais, acredito que nada mais daqui pra frente passará impune, hoje ou amanhã tão logo o tempo irá dizer, entretanto, aparentemente já não há mais espaço para práticas de políticas beneficiárias. 
O Estado de Direito tantas vezes citado para defesa do senhor e do próprio governo, talvez fosse melhor aplicado no que diz respeito do retorno que o próprio governo deveria dar ao contribuinte, o direito a educação básica e de qualidade, saúde, moradia, transparência, bem estar e no desenvolvimento de um país que é rico nos teus recursos naturais e culturais e miserável no que diz respeito a política.
Não há prova de fracasso maior num governo senão quando o próprio povo que o elegeu se volta contra diante de tantos escândalos inescrupulosos, dilacerando as políticas disseminadas nos embates eleitorais, enquanto o resto do país se vira com migalhas.
O Impeachment ou a Impugnação da chapa de nada adiantará caso não haja uma reforma política, econômica e social profunda e efetiva, ao qual, enquanto estiverem os mesmos, que utilizarão os mesmos caminhos, visando as mesmas coisas, incitarão no povo os mesmos sentimentos de nojo e indignação.
Por hora, nos últimos anos, pela moda que viralizou, talvez a consciência adquirida, tenhamos despertado de que quem realmente governa este País somos nós, que estas vozes unidas e elevadas a um único som são mais forte e que sabendo disso, saibamos também fazer diferente para enfim, sermos diferentes de todos.