quinta-feira, 17 de março de 2016

Sobre Política.



Nasci numa época em que as pessoas não conversavam abertamente sobre política, fora as viúvas saudosistas de Maluf, Sarney, FHC e tantos outros, porém, recentemente e com o passar dos anos, no desenvolvimento do acesso as informações e de tecnologias, política hoje é quase tão retratada quanto o Carnaval em fevereiro ou a rodada de futebol nos domingos.
Em tempos de crise muitos ensejam alcançar o poder da mudança, do fato novo, a partir disso surgem santos, videntes, estudiosos (como surgem estudiosos nestes momentos) e ou aquele velho discurso manjado de coalizão pelo bem comum, ou seja, governar pelos próprios interesses e pra salvar a própria pele, sem considerar o povo.
Convoca-se os militantes sejam eles os prós ou contras, entopem a mídia que tanto anseia por furos e coberturas sensacionalistas, excitam os debates de ideais acalorados com o velho "nós" contra "eles" ou "coxinhas" (rico não pode protestar e pobre que protesta com rico não é pobre) versus petralhas (rico pode protestar com pobre porquê nestas manifestações estão supostamente apenas a escória da sociedade). A verdade além de nossa imaturidade política, que muito se deve a própria submissão da população que muitas vezes é adepta de atitudes tão condenáveis quanto as que hoje combatemos, é que não aprendemos de fato o conceito de Democracia.
Não se permite no Brasil direcionar críticas ao governo sem receber a alcunha de oposicionista, mas ora, e nos casos onde a oposição associada também não lhe representa? Cito então nosso exímio ministro Mercadante que diz "Na política vale tudo.", e se este é o preceito aplicado pela maioria destes que supostamente nos representam, qual a relevância de se discutir A ou B? 
Tal qual o Pedro Bial adjetiva os famosos "Brothers" de heróis por suportarem o confinamento no período máximo de 90 dias e concorrendo a R$1.500.000,00, onde diga-se de passagem, os referidos se encontram por livre e espontânea vontade, como denominaríamos o verdadeiro cidadão trabalhador brasileiro? Este mero mortal, que não possuí luxo em sua casa, não se habilita a herói e se torna na prática, tendo que trabalhar uma vida inteira e não receber metade do valor do prêmio pago pelo reality.
Esta alcunha superficial aplica-se também ao discurso já vencido praticado nos últimos 13 anos, de que independente da ação ou da grave irregularidade cometida e comprovada, quem a aponta se torna golpista. Isso é golpe!
As milhões de pessoas que destinam-se as manifestações justamente para lutar contra estas ações vulgares, são taxadas de alienadas por todos aqueles que são ou se fazem incapazes de compreender pelo fato de não aceitarem ou de algum modo, se beneficiarem da causa que defendem mesmo diante dos fatos.
Discussões filosóficas, aliás, não podem ser empregadas em discussões de fatos, não há, de forma minimamente racional razão para se estoriar situações já comprovadas e consolidadas em todas as instâncias.
Nós contra eles, elite branca versus pobre preto, sudeste contra nordeste, todas as induções acima são mescladas de forma uniforme dentro de um discurso de união para o desenvolvimento. Notou a inconsistência? Seremos nós com eles? Nós e eles? Ou apenas nós?
Como pode, por exemplo, um ex-presidente analfabeto, nordestino, mero peão e pobre, ser e ao mesmo tempo não ser (embora existam diversas evidências que sim) dono de um tríplex, de um sítio e além disso, ter todos os gostos e despesas custeados por amigos empresários que são da elite branca, donos de empreiteiras e prestadores do governo? Qual a dificuldade em enxergar as incoerências? Como pode a mesma figura aparelhar, utilizar, se orgulhar e dar autonomia para a Polícia Federal, hoje se esquivar e tentar salvar a própria pele? 
Pois é, o senhor não é mais presidente, tão pouco se assemelha com aquela figura de presença forte e atitude feroz na implementação de seus ideais. Permita-se então vangloriar-se das benfeitorias, do desenvolvimento e ascensão social, honre-se de parte do caminho trilhado e da época em que seu discurso correspondia a prática. Abaixe o tom, engula seu próprio ego, realoque sua humildade perdida, resigne-se de que seu tempo e sua figuração já não são mais necessárias e aprenda que a justiça do homem falha, muito em favor de pessoas como você, mas a de Deus não.
Ninguém, de nenhum grau, de qualquer lugar ou em qualquer posição se sobrepõe as leis que legitimam a sociedade moderna e contemporânea que vivemos. O discurso de Robin Hood é lindo desde que destinado de forma igualitária, agora, um tríplex pra você e um casebre para os demais não me parece o jeito mais justo e sensato de retribuir aqueles que o elevaram e construíram seu sonho de poder.
O homem, ex-presidente, desde sua criação se mostra muitas vezes incapaz de resistir as tentações que a vida nos apresenta, o progresso coletivo disfarçado pelo progresso próprio, no momento certo causa o regresso.
Quanto aos demais, acredito que nada mais daqui pra frente passará impune, hoje ou amanhã tão logo o tempo irá dizer, entretanto, aparentemente já não há mais espaço para práticas de políticas beneficiárias. 
O Estado de Direito tantas vezes citado para defesa do senhor e do próprio governo, talvez fosse melhor aplicado no que diz respeito do retorno que o próprio governo deveria dar ao contribuinte, o direito a educação básica e de qualidade, saúde, moradia, transparência, bem estar e no desenvolvimento de um país que é rico nos teus recursos naturais e culturais e miserável no que diz respeito a política.
Não há prova de fracasso maior num governo senão quando o próprio povo que o elegeu se volta contra diante de tantos escândalos inescrupulosos, dilacerando as políticas disseminadas nos embates eleitorais, enquanto o resto do país se vira com migalhas.
O Impeachment ou a Impugnação da chapa de nada adiantará caso não haja uma reforma política, econômica e social profunda e efetiva, ao qual, enquanto estiverem os mesmos, que utilizarão os mesmos caminhos, visando as mesmas coisas, incitarão no povo os mesmos sentimentos de nojo e indignação.
Por hora, nos últimos anos, pela moda que viralizou, talvez a consciência adquirida, tenhamos despertado de que quem realmente governa este País somos nós, que estas vozes unidas e elevadas a um único som são mais forte e que sabendo disso, saibamos também fazer diferente para enfim, sermos diferentes de todos.